segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Que bom que esse sangue jorra

Demorou, mas tive a oportunidade de assistir ao documentário 3 irmãos de sangue, que conta a vida de ninguém menos que Henfil, Betinho e Chico Mário. Uma trindade hemofílica onde cada pessoa dela executou, com unção, a missão que lhe cabia. O humor, a sociologia prática e a música com alma nunca foram tão refinados e afinados com nosso tempo. Temos uma geração inteira marcada por Henfil, Betinho e Chico Mário.

Difícil dividir comentários sobre o filme e sobre a vida dos três. A gente não sabe se gostou e saiu emocionado pelo conteúdo dramático ou pela maneira com que tudo foi narrado em tela. A diretora Ângela Patrícia Reiniger mostrou que tinha na veia a matéria-prima essencial para se fazer um filme sobre os três: sensibilidade. Porque é isso que transborda a cada cena e, principalmente, a cada depoimento de arquivo de cada um deles.

Eu, particularmente, nem sabia quem era Chico Mário, sequer que Henfil e Betinho tinham mais um irmão famoso. Pois o filme mostra que os três estavam no mesmo patamar da vida, daqueles que nasceram pra fazer diferença - muito antes dessa expressão virar clichê. Seu violão fala alto no volume inaudível do coração de quem assiste o documentário. A música sobre Ouro Preto e o show em sua homenagem, quando a AIDS avançava (os três se tornaram soropositivos após transfusão de sangue, sempre necessária) são de não deixar a gente dormir, no bom sentido.

Henfil, um barbudo bonito e carismático pra caramba, e seus traços mínimos no papel. É uma coisa impressionante. Vê-lo falar sobre cada personagem, sobre seu desejo intrínseco de fazer cinema, sobre o Brasil - todos eram muito, mas muito brasileiros - é bom demais. A maneira original de entrevistar os convidados no seu quadro na TV Mulher é inesquecível.

E Betinho, que levou a teoria sociológica para o campo prático e urgente do brasileiro? Para aqueles que tinham fome e para os indiferentes: ambos sentiram o revirar do estômago. E isso desde quando o irmão do Henfil voltou da anistia... Esse parece nunca ter sossegado na tarefa que assumiu pra si de não ser mais um lamentador.

A hemofilia e a AIDS permeiam o documentário, como deve ter sido na vida dos três. A princípio, explícita na hora da descoberta e de saber como lidar com elas. Depois, como companheiras permanentes com as quais os irmãos precisaram conjugar suas circunstâncias e perspectivas. Ao final, de novo explícita, anunciando o fim e denunciando negligências no trato com os hemofílicos de todo o país, e não só os famosos.

Além da cara vermelha e dos soluços de tanto chorar, saimos do cinema com a sensação de que a luta contra a desigualdade e os desmandos injustos desse mundo pode ser encarada com suavidade. Em nenhum momento percebemos nos discursos de Henfil, Chico Mário e Betinho aquele ranço chato de quem acha que a vida nada vale porque não há condições ideais para todos. Isso é verdade, mas eles nos mostram que é possível encarar essa luta com o vigor suave de um traço, de um acorde ou com o dom da conciliação.

Uma das últimas falas de Betinho parece resumir poeticamente tudo o que eles viveram: "Nessa luta, daqui a um tempo, não importa quem vai estar vivo ou quem vai estar morto. O que importa é que a música existe".

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Anteprojeto de acordo com a realidade

O deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) apresentará no Congresso um anteprojeto de lei que diminui a responsabilidade do jornalista na publicação das matérias. Peraí? Um incentivo ao "vale-tudo"? Não, apenas uma tentativa de colocar as coisas nos seus devidos lugares. Mais do que a mão que escreve, quem dá o veredicto final no que é publicado (e às, vezes, de como é publicado) é a mão que edita, que está na chefia e pertinho dos donos. Isso quando não é a mão do próprio dono que dá o carimbo final.

“O jornalista não é decisivo na escolha da matéria a ser publicada. No mundo real, sabemos que o título e a legenda, criados por outra pessoa, podem alterar o entendimento, não refletir necessariamente o conteúdo da matéria. O jornalista não pode ser responsabilizado por esse tipo de controvérsia”, diz o deputado, em entrevista ao site do Sindicato dos Jornalistas do RJ. "“A responsabilidade sempre recairá sobre a empresa jornalística”, completa.

O leitor pode checar: hoje em dia, muitas matérias são assinadas pelo jornalista. Há algum tempo, isso não era tão comum. Bom, se as matérias não são assinadas, fica ainda mais claro que a responsabilidade final da publicação é do jornal. Ou seja, o fato de ter que assinar vulnerabiliza o profissional - os possivelmente atingidos ou incomodados com determinada matéria resolvem processar o autor do texto. E a empresa jornalística não é tão visada como co-autora.

Um exemplo claro é o da repórter Suely Caldas, veterana do jornalismo econômico. Ela contou, em recente seminário na Uerj, sobre sua experiência na cobertura dos desmandos públicos no Banespa, nas gestões de Luis Antonio Fleury e Orestes Quércia. Fleury processou a repórter, e a justiça deu ganho de causa. Ela foi condenada a pagar 120 mil reais de indenização - para isso, teria que vender seu único apartamento. No caso, o Estadão (onde Suely trabalhava) pagou. Mas se o processo fosse contra Suely apenas, o jornal teria essa obrigação?

Esse é outro ponto do anteprojeto, segundo Miro Teixeira: “É inconcebível que alguém com salário de 7, 8 mil reais seja obrigado a pagar uma indenização de 100 mil reais a alguém que às vezes ganha muito mais do que isso por mês.” E dependendo da realidade do veículo, o deputado foi até generoso ao se referir ao salário do jornalista.

O repórter vai à rua, faz entrevistas, apura as informações, redige. Precisa ser bom nisso e estar bem fundamentado nos dados que levantou. Essa responsabilidade é dele, sem dúvida. Mas quando a matéria é selecionada para publicação, passa por edições finais, vai pra diagramação, gráfica, bancas... Todo esse processo é responsabilidade do jornalista?

O que a sociedade em geral precisa perceber é que essa situação - responsabilizar o jornalista totalmente - não é benéfico para o processo de apuração de informações de interesse público. Os donos do poder sabem flertar com os donos da mídia e o lado mais fraco da corda sempre será o dos jornalistas. Então, é preciso falar de responsabilidade sim, mas proporcionalmente.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Uma boa idéia, uma boa notícia


A gente tem que espalhar o que há de bom também, né? Uma ONG palestina está organizando uma campanha para que a Copa do Mundo de Futebol de 2018 aconteça em Israel e na Palestina (como em 2002, quando Japão e Coréia dividiram a responsabilidade). Aparentemente, o objetivo é facilitar as conversações rumo à paz entre as duas nações. Para dar força à campanha, querem Pelé como "padrinho" da idéia.

Leia a entrevista do autor da campanha no Globo.com. Há também o site oficial, incluindo mapa dos países com as possíveis cidades-sede e um vídeo promocional.

Graças às agruras do Pan 2007 e da Copa que vem aí, a gente fica meio pé atrás se a iniciativa é séria mesmo ou mais uma idéia para ganhar dinheiro fácil com a paixão dos outros - com uma causa nobre de lambuja. Mas fiquemos atentos, pois são poucos os projetos a reconhecer que a integração universal proporcionada pelo futebol pode influir fora das quatro linhas.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007


Ai meu Pan...

Lembra da CPI do Pan, que a câmara dos vereadores do Rio tava tentando executar (em todos os sentidos)? Postei sobre isso há pouco tempo. Ela não está indo pra frente por falta de quórum. Dos cinco deputados que compõem a comissão que coordena a CPI, só um compareceu à última reunião - Eliomar, do PSOL. Ah, e foi o terceiro adiamento...

A gente reclama de CPMF e falta de verba em geral, mas aqui na nossa cidade o nosso prefeito defeca e se locomove para o dinheiro público. Todo mundo sabe a pilhagem que foi o estouro do orçamento do Pan 2007 (e a Copa vem aí...). E vai ficar por isso mesmo?

Dá só uma olhadinha no plano de trabalho da CPI, reunindo todas as irregularidades apontadas no Pan. Depois, uma sugestão: escreva aos queridos vereadores perguntando a quantas anda a CPI...

CARLO CAIADO - caiado@carlocaiado.com.br - Tel: 3814-2081 a 2083/2513/2514

NADINHO - nadinhoderiodaspedras@camara.rj.gov.br - Tel: 3814-2692 / 2440 / 2441/ 2444

LUIZ ANTONIO GUARANÁ - laguarana@uol.com.br - Tel: 3814 - 2187 e 2189

PATRÍCIA AMORIM - patricia.amorim@camara.rj.gov.br - Tel: 3814-2132 a 2135